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AS GUERRAS DE YAN BOECHAT

Por Erika Zerwes

É atribuída a Robert Capa, um dos mais conhecidos fotógrafos de guerra do século XX, uma famosa frase que resumiria, para ele, o seu ofício: se uma fotografia não é boa o suficiente, é porque o fotógrafo não estava perto o suficiente. Essa frase pressupõe muitos dos elementos que constituíram a ideia que fazemos hoje de um fotógrafo de guerra: que ele (geralmente sujeito masculino) é não só destemido, mas comprometido com o que reporta a ponto de voluntariamente arriscar sua segurança para obter a foto. 

 

Nós poderíamos nos perguntar, porém, perto de quê esse fotógrafo tem que estar? A resposta óbvia é: perto da ação. Mas o questionamento persiste, qual ou quais ações constituem o evento guerra? Seria o tiro ou o lançamento da bomba? O general que assina a ordem de dar o tiro ou de lançar a bomba? O lugar ou corpo que recebe o tiro ou que é destruído pela bomba? Ou seja: o que qualifica uma fotografia como ‘fotografia de guerra?’ No nosso mundo imerso em imagens, essa pergunta parece ainda pertinente.

 

É inegável que Yan Boechat está sempre perto de alguma ação. Suas imagens por vezes realmente mostram o momento do tiro que sai do armamento e o momento em que a bomba explode (como em Mossul, no Iraque). Mas, mais do que isso, pode-se ver no trabalho de Yan um alargamento da noção de ‘guerra’, que inclui principalmente o aspecto humano das pessoas comuns que sofrem em cada momento de suas vidas os efeitos dos diferentes conflitos. Seja com as histórias pessoais de alguns voluntários brasileiros que que ele encontrou lutando na Ucrânia em 2015, conflito que se deflagrou de forma aberta em 2022 e que continua até o momento em que escrevo; seja por crianças em Mossul, que são forçadas a conviver com um conflito também prolongado, e que as vezes o reproduzem em suas brincadeiras; seja nas histórias dos que perderam tudo e se viram forçados a abandonar suas vidas e recomeçar em campos de refugiados, como os tigrinos fugidos do conflito na Etiópia.

 

Com sua câmera, Boechat constrói dezenas de micro-histórias. São pequenos arquivos dos dramas humanos que podem ser unidos e recombinados (como no caso da Ucrânia, para onde o fotógrafo retornou em diversos momentos desde 2015, por vezes reencontrando as mesmas pessoas depois de anos) para montar uma narrativa multifacetada. Esse foco nos indivíduos anônimos e suas histórias remete à fotografia de valores humanistas que se iniciou no movimento de cooperação internacional contra o fascismo na década de 1930. É o exato oposto da guerra dos grandes equipamentos bélicos, das grandes personalidades, e dos negócios (como deixou escapar o líder militar cossaco entrevistado por Boechat em 2015 na Ucrânia, ao admitir que “Essa guerra ainda vai durar ao menos três anos, você sabe, houve muito investimento e é preciso esperar para que o lucro retorne aos investidores”).

 

São, afinal, os dramas e histórias destes indivíduos sem poder político, tirados por alguns instantes do anonimato pelas lentes de Boechat, que formam a maior parte - e a mais real - da ‘ação’ e do que passará na história a ser conhecido como cada uma dessas guerras.

A exposição "Visíveis e Invisíveis: Guerras, Exílios, Vivências" é composta por painéis fotográficos dispostos em espaços do campus da UNICAMP em Barão Geraldo, para vizualizar o mapa da exposição acesse a página inicial. Abaixo é possível consultar os conjuntos de imagens que compõem a exposição.

VISÍVEIS E INVISÍVEIS

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